quarta-feira, 7 de maio de 2014

Que banho de chuva !

Fazia muito tempo, muito tempo mesmo que não sentia esta sensação. 

Era um final de semana de março, estava em Cananéia para "cuidar" do veleiro. Ele estava ancorado no canal, em frente ao Centro Náutico de Cananéia. Existia a previsão de passagem de uma frente fria no sábado. Por volta das 4 horas da tarde começou um vento forte. Em seguida começou a chover. Eu estava dentro da cabine quando senti um balanço forte. Subi rapidamente ao convés para verificar a ancoragem: constatei que o cabo estava frouxo. Olhei ao redor e não parecia que o veleiro se movimentava. Comecei a puxar o cabo até que firmou; a âncora estava firme. O que ocorreu foi uma curiosa composição de forças, a forte maré fazendo força para um lado e o vento para a direção exatamente oposta e com a mesma intensidade, fazendo o veleiro ficar neutro. Isso durou alguns minutos. Esta situação de neutralidade eu nunca havia presenciado. Imagino que o balanço tenha ocorrido no momento que o cabo afrouxou com a entrada do vento. 

Felizmente, tenho um conjunto eficiente para ancoragem: âncora bruce de 10 Kg, 10 metros de corrente 9 mm) e cabo. Mas fiquei em alerta pois, nesta situação de composição de forças, muitas vezes o cabo da âncora fica alinhado em uma direção e o veleiro, pela força do vento, alinhado em outra direção, podendo fazer um ângulo menor que 90º entre o alinhamento do cabo da ancoragem e o alinhamento do veleiro. Como o cabo é leve, ele não desce verticalmente ao fundo, fica esticado na diagonal até o início da corrente.

Continuava a ventar e chover forte. Desci para o bote e me preparei para intervir caso o vento fizesse o veleiro "rodar" sobre o cabo da âncora. Foi o que aconteceu. O vento rodou o veleiro fazendo com que a quilha encostasse no cabo da âncora, forçando-a lateralmente para o ponto de alinhamento. Isso pode gerar uma carga excessiva sobre o conjunto cabo/corrente, fazendo-o esticar e levantar a âncora

Utilizei então a técnica tradicional: com o bote empurrei a proa do veleiro de forma a faze-lo rodar no outra sentido. 

O vento e a chuva continuava, eu estava todo molhado. Não estava com roupa de tempo. Mas apesar de todo o perrengue passado, era uma sensação muito gostosa. A natureza me tocando com seus elementos primitivos: vento, chuva e frio. Fazia muito tempo que não tomava um bom banho de chuva. Já havia me esquecido como isso pode ser bom!

O bom de velejar é isso, o contato direto com a natureza. Na travessia que realizei posteriormente de Cananéia a Santos, presenciei alguns presentes da natureza que não são mais comuns para nós que moramos em uma cidade grande: estrelas que brilham de forma espetacular em alto mar livre das luzes da cidade; uma incrível lua cheia nascendo no horizonte e um lindo nascer do sol.

Quanto tempo você não toma um banho de chuva?

De Cananéia a Santos - um lindo nascer do sol .
De Cananéia a Santos - lua cheia nascendo no horizonte.

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