domingo, 19 de janeiro de 2014

De Marujá a Barbados

28/12/2013. Após o pernoite em Marujá o próximo destino era Barbados, já no Paraná, com uma rápida parada no vilarejo do Ariri neste nosso segundo dia de navegação em direção à Antonina (PR).

Mapa do trecho de navegação entre Cananéia e Antonina.

Seguimos o canal sentido sudoeste. Na bifurcação, encontro entre as Ilhas do Cardoso e Ilha do Superaguí, viramos à direita em sentido ao Ariri. O outro sentido leva à Barra do Ararapira, que é rasa e não permite a navegação de veleiros. Este trecho do canal até a Baía dos Pinheiros delimita a divisa entre o Estado de São Paulo e o Estado do Paraná.

 Navegação rumo ao Vilarejo do Ariri, Ilha do Superagui à esquerda e continente à direita.
Nicolas preferiu ir no stand-up.
 Biguá (espécie de pato) levantando voo.
 Transporte típico dos pescadores e catadores tradicionais.
 Vilarejo do Ariri ao fundo.

O trajeto de Marujá a Ariri foi de aproximadamente uma hora de navegação. Este trecho não possui dificuldades em relação ao calado.

VEJA TRACK DE NAVEGAÇÃO: De Marujá a Ariri.
(* Não utilizar para navegação.Use somente para visualização do percurso. ** O sistema GPS possui erros de dezenas de metros)

O Vilarejo do Ariri é uma pequena vila de pescadores, sendo um bairro de Cananéia. Fica localizado no continente, às margens do rio que divide o Estado de São Paulo do Paraná. O acesso de carro ao vilarejo é realizado por uma longa estrada de terra. Por isso, o acesso preferencial é por barca a partir de Cananéia.

 Vilarejo do Ariri.

Barco escolar utilizado para transporte na região.

Ancoramos no canal e fomos ao Restaurante Dona Maria apreciar algumas ostras em natura e gratinadas. Aproveitamos também para comprar garrafas de água, já que o consumo estava além do previsto devido ao intenso calor que fazia.

Nicolas vai de stand-up até o Restaurante Dona Maria.
Pier do Restaurante Dona Maria com o veleiro ancorado ao fundo.

A parada no Ariri foi estratégica para aguardar a maré alta, que seria as 13h30. Do Ariri até o ponto mais crítico de calado (entre o início do Canal do Varadouro e a foz do rio que despeja sedimentos) é de uma hora. Saímos adiantados em uma hora para evitar qualquer problema, já que não podíamos perder o horário da maré alta.

Logo na saída do Ariri passamos por algumas regiões muito rasas, mas não tivemos problemas.

Continuava fazendo muito calor e os meninos sempre encontravam alguma forma de brincar e se refrescar. O stand-up rebocado e a isca de tubarão (cabo lançado na popa do veleiro) foram as diversões no percurso.

 Meninos brincando no stand-up.
 Meninos brincando com a isca de tubarão.

A partir deste ponto começamos a receber a visita de algumas das mutucas. Eram de dois tipos, a pequena, em maior número picava, e a maior, predadora das menores que as espantava. Segundo Jânio, o período de mutucas é do início de novembro ao final de dezembro, sendo os dias de novembro de lua cheia os mais críticos.

Avistamos no percurso poucas embarcações. As que foram vistas estavam paradas com pescadores turistas. A pesca é uma das grandes atrações turísticas da região.

 Barca com pescadores.

Como previsto, chegamos com uma hora de antecedência no início do Canal do Varadouro, um canal artificial construído pelo homem e inaugurado em 1952 para permitir navegação entre a região de Cananéia e o complexo da Baía dos Pinheiros, Baía das Laranjeiras e Baía de Paranaguá. Isso permitiu estabelecer uma hidrovia com navegação interior, em águas abrigadas. Possui cerca 6 Km de comprimento, 30 metros de largura e, originalmente, tinha 6 metros de profundidade. Hoje está assoreado. No trecho mais crítico, de cerca de 1800 metros, existe um rio que despeja sedimentos (areia) impedindo a navegação de veleiros com calado maior mesmo na maré alta. 

O Canal do Varadouro delimita a divisa entre os estados de São Paulo e Paraná e, sua construção, deu origem à Ilha de Superagui.

Trecho de aproximadamente 1800 metros com restrições de calado para navegação.

Diminuímos a velocidade para avançar neste trecho crítico. Porém, logo no início encalhamos. Com o bote achamos o lado mais profundo para sair. Porém, não foi fácil desencalhar. Inicialmente ficamos todos de um lado para adernar o veleiro. Ele andou um pouco, mas não o suficiente. Fomos, então, para o plano B, colocar peso na retranca e abri-la utilizando dois galões de combustível como peso. Amarramos um cabo da ponta da retranca à proa para controlar sua abertura. Também amarramos a adriça da genoa à ponta da retranca, para não sobrecarregar o amantilho. Finalmente adernamos o suficiente para desencalhar.

Fiquei preocupado em relação ao calado, pois o pior ainda estava por vir. Optei por retornar ao início do canal, cerca de 150 m, e fazer uma avaliação de todo o trecho crítico com o bote. 

TRACK DE NAVEGAÇÃO: De Ariri ao Ponto Crítico do Canal do Varadouro.
(* Não utilizar para navegação.Use somente para visualização do percurso. ** O sistema GPS possui erros de dezenas de metros)

Fomos eu e o Jânio. Utilizamos o crock para ver a profundidade. Durante a ida, a profundidade era muito crítica, mas a maré ainda subia com muita velocidade. Quando chegamos ao ponto mais crítico, cerca de mil metros a frente, vimos que passava. 

Galões pendurados na ponta da retranca.
Nicolas brincando com as adriças.

Retornamos rapidamente ao veleiro e retomamos a navegação para aproveitar a janela da maré alta. Jânio foi de bote na frente, fazendo as medições de profundidade com o crock. Percorremos assim até um pouco além do trecho crítico.



Este é o ponto mais isolado em relação à presença humana e embarcações, uma região muito preservada. Era possível observar de perto a beleza da vegetação das marges do canal.

Jazz 4 navegando pelo Canal do Varadouro.

Havia ainda um longo trecho, cerca de 15 milhas, a ser percorrido até Barbados: Canal do Varadouro, outros canais da sequencia e Baia dos Pinheiros. 

Apesar da Baia dos Pinheiros parecer ampla, ela é cheia de armadilhas como bancos de areia e pedras, existe até uma embarcação naufragadas. O canal de navegação para veleiros na baía é restrito e precisa ser percorrido com cuidado.
Ilhotas e bancos de areia na Baia dos Pinheiros.

Passamos ao lado da Ilha do Pinheiro e Ilha do Pinheirinho, que abrigam cerca de 5 mil exemplares do papagaio de cara roxa, também conhecido como chauá, que está ameaçado de extinção. Os papagaios adultos sempre são vistos aos pares (casais).

Chegamos em Barbados por volta das cinco da tarde. A aproximação para ancoragem em Barbados deve ser feita com cuidado através de um canal raso, aproximando pela ponta do morro e deixando a pedra em frente ao vilarejo por boreste. Ancoramos em frente ao vilarejo.

TRACK DE NAVEGAÇÃO: Do Canal do Varadouro a Barbados.
(* Não utilizar para navegação.Use somente para visualização do percurso. ** O sistema GPS possui erros de dezenas de metros)

Vista de longe do Vilarejo de Barbados.
Vilarejo de Barbados.
 Pier do Vilarejo de Barbados.

Barbados é um pequeno vilarejo localizado na face leste da Ilha do Superagui que conta com algumas dezenas de famílias. No passado, plantavam arroz, milho e mandioca. Hoje, com o estabelecimento do Parque, não podem mais plantar. Também não podem mais construir canoas e remos extraídos de madeiras da região. Atualmente, a comunidade vive essencialmente da pesca artesanal (peixes e camarão), catação (caranguejo, ostras e mariscos) e, mais recentemente, criação de ostras. Não existe energia elétrica na Ilha, mas recentemente foram instalados painéis solares nos vilarejos da Ilha. O turismo é ainda muito incipiente: o vilarejo conta com dois restaurantes muito simples e uma casinha para hospedagem de turistas.

Reservamos vagas nesta casinha, que ficara recentemente pronta (Contato: Rosália, tel 41 9208-9495). Quando visitamos o vilarejo por lancha em agosto passado ela ainda estava em construção. São dois quartos, um banheiro e uma pequena sala. O banheiro contava com aquecedor a gás, que desligamos devido ao forte calor que fazia naqueles dias. Oferecia também roupas de cama e toalhas. Aproveitamos para tomar um bom banho de chuveiro.

Pousada do Vilarejo de Barbados.

Em Barbados, já não existia mutuca, somente mosquitos que adoravam picar nossos tornozelos, nada que um bom repelente não desse jeito. 

Jantamos no Restaurante Natura, de Antônio Lopes. A família de Antônio Lopes plantava no passado arroz, milho e mandioca. Em uma área do restaurante existe um mini museu com as peças utilizadas no passado para o processamento da mandioca.

Restaurante Natura.
Antônio Lopes, sua esposa e Jânio Preto.

O cardápio do restaurante é baseado essencialmente em peixes e frutos do mar. No jantar, nos serviram peixe, pirão, ostras, camarão, arroz, feijão, batata frita e salada. Uma delícia! A batata frita é um pouco diferente, eles passam na farinha de trigo, fica uma delícia.

Jantar no restaurante Natura.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

De Cananéia à Marujá

Tudo pronto para a navegação de Cananéia à Antonina, percorrendo as águas abrigadas através de canais e baías. Esta região conhecida por Lagamar, abriga o maior berçário de peixes da América do Sul e engloba diversas ilhas, dentre elas a Ilha Comprida, a Ilha de Cananéia, a Ilha do Cardoso, a Ilha do Superaguí, a Ilha das Peças e a Ilha do Mel, fora as ilhas menores. 

O percurso será o mesmo do Cruzeiro Lagamar pelo Varadouro, que infelizmente foi adiado devido à baixa demanda por inscrições.

Quem nos acompanha como guia é Jânio Preto, que já nos guiou em outras viagens pela região.  A companhia de um guia é importante, não somente para nos guiar nos estreitos canais, mesmo com o uso de tracks da região, mas também como um facilitador para qualquer necessidade que surja.

A previsão de tempo era boa: muito calor e nenhuma chuva até o ano novo. Já na saída, avistamos um cardume de golfinhos.
 Cardume de golfinhos.
 Cardume de golfinhos logo na saída de Cananéia.
A maré estava enchendo, por isso, até a chegada na Ilha do Cardoso seguimos com maré contra e depois com maré a favor, fazendo uma média de 5 nós. No caminho cruzamos com a barca da DERSA, que retornava do vilarejo do Ariri.
 Barca da DERSA.

A Ilha do Cardoso é a porção de território mais ao sul do Estado de São Paulo, fazendo parte do Município de Cananéia. Em 1962 foi estabelecido o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, que possui mais de 15 mil hectares de Mata Atlântica intocada. Na Ilha não existem hotéis, somente pequenas pousadas e campings. 

Fazia muito sol, muito calor e havia pouco vento. Para se refrescar, existiam algumas alternativas: isca de peixe (ficar segurando um cabo amarrado à popa do veleiro em movimento) ou ficar no stand-up.

 Nicolas no stand-up.
Canais em direção ao Marujá, à esquerda a Ilha do Cardoso.
Nossa primeira parada foi na Cachoeira Grande da Ilha do Cardoso. Antes aproveitamos para almoçar. Para adentrar nessa parte da ilha é necessário o acompanhamento de um guia. Percorremos a trilha que leva à cachoeira em menos de meia hora. A cachoeira possui uma piscina que convida a um banho, ainda mais com o forte calor que fazia. A diferença térmica foi muito grande, a ponto de parecer que a água da cachoeira estava congelada.
 Parada para conhecer a Cachoeira Grande da Ilha do Cardoso.
 Caminho para a Cachoeira Grande.
 Cachoeira Grande.
 Regina e Volnys na Cachoeira Grande.
 Jânio Preto na Cachoeira Grande.
 Retorno ao veleiro após a visitação à Cachoeira Grande.

TRACK DE NAVEGAÇÃO: De Cananeia à Cachoeira Grande (Ilha do Cardoso)

Kenzo estava com seu stand-up mil e uma utilidades. Uma delas é a batalha para ver que fica de pé, uma diversão para eles.

Após a visitação à cachoeira, seguimos em direção à Marujá, onde iriamos pernoitar no veleiro. 

O vilarejo de Marujá fica localizado na Ilha do Cardoso, que compõe o Parque Estadual da Ilha do Cardoso. É um pequeno vilarejo com poucos moradores. Possui alguns restaurantes, pousadas e áreas de camping. É uma região muito preservada e possui restrições relativas à ocupação humana e atividades econômicas. O acesso a Marujá pode ser realizado somente por embarcação.

O Vilarejo de Marujá fica em uma área de restinga da Ilha do Cardoso onde uma faixa de areia de aproximadamente 400 m separa o canal do mar, naquele trecho.

Chegando ao Marujá.

TRACK DE NAVEGAÇÃO: De Cananeia à Cachoeira Grande (Ilha do Cardoso)

Ao chegar, fomos direto ao mar, atravessando a restinga de aproximadamente 400 metros. Demos um mergulho e pegamos algumas ondas de jacaré (técnica de pegar onda somente com o corpo).

Vilarejo de Marujá, na Ilha do Cardoso.
Restinga em Marujá, Ilha do Cardoso.
Praia de fora do vilarejo de Marujá.

Notamos que havia poucos mosquitos para nos incomodar em Marujá. Já a ilha estava repleta de gente, e não parava de chegar embarcações com mais gente! Jantamos no próprio veleiro. O Jânio preferiu ficar na ilha, pois conseguiu um lugarzinho para dormir.

Veja, a seguir, o vídeo deste trajeto.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Cananéia

Após levar o veleiro de Santos a Cananéia, voltei para São Paulo para pegar a família, iríamos passar o Natal em Cananéia e depois navegaríamos até Antonina pelos canais internos, aproximadamente 100 milhas náuticas, com as paradas.

Cananéia é a última cidade do litoral sul de São Paulo, fazendo divisa com o estado do Paraná. Chegamos em três horas e meia de carro a partir de São Paulo. O trecho final é uma estrada tranquila, conservada e bem pitoresca, onde vimos muitas quaresmeiras floridas. 


A cidade é muito pequena, parece que parou no tempo, como Guaraqueçaba e Antonina. À noite os moradores passeiam na rua que margeia o canal e na praça de frente à Igreja.


Passamos o Natal em um Hotel em Cananéia, de frente para o canal. Os meninos gostaram muito do tobogã da piscina.





 Jantamos no Restaurante Bacharel, com direito à ostras gratinadas.



Nos dias seguintes demos uma geral no barco, fizemos compras, abastecemos de combustível e água e também passeamos com o veleiro. O passeio foi na Praia do Pereirinha, em águas abrigadas, em direção à Barra de Cananéia. Kenzo estreou seu novo stand-up.