Eu e meu filho Kenzo pegamos o ônibus da madrugada de São Paulo em direção à Paranaguá. Chegamos na sexta feira (28/02/2014) bem cedo e fomos direto ao Iate Clube de Paranaguá onde Ângelo, marinheiro que tomava conta do veleiro, nos aguardava.
Logo depois chegou o mecânico que iria trocar uma peça de alumínio do sistema de arrefecimento do motor que estava totalmente corroída. Enquanto isso fomos tomar banho, almoçar e fazer supermercado.
Planejamento
A navegação de Paranaguá a Cananéia seria realizada pelos canais interiores. Havia maré de lua que permitia ultrapassar os trechos mais rasos. A navegação nesta região exige a observação da maré para usá-la a favor.
Nosso primeiro trecho seria de Paranaguá à Vila das Peças, cerca de 12 Mn, onde dormiríamos para encarar, no dia seguinte, cerca de 48 Mn até Cananéia pelos canais interiores. A previsão de maré para o Porto de Paranaguá, Canal Sueste e Cananéia era:
Previsão da maré - Porto de Paranaguá - Marinha do Brasil.
Previsão da maré - Porto de Paranaguá - Marinha do Brasil.

Com este cenário de maré, a melhor alternativa seria sair de Paranaguá no final da tarde, aproveitando a forte maré vazante. No dia seguinte, a passagem pelo ponto crítico do Canal do Varadouro deveria ser realizada por volta das quatro horas da tarde.
Saída
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Chegada
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Distância
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Horário
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Maré
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ICP
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Peças
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12,0
Mn
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15h
– 18h
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vazante
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Peças
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Vila Fátima
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15,5
Mn
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6h
– 9h
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final vazante; estofo
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Vila Fátima
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Ponto Crítico
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10,0
Mn
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11h
– 14h
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estofo; início cheia
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Ponto Crítico
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Ariri
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2,5
Mn
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15h
– 16h
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cheia
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Ariri
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Marujá
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3,4
Mn
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16h – 17h
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vazante
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Marujá
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Cananéia
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16,0
Mn
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17h
– 21h
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vazante
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Primeiro trecho - de Paranaguá à Vila das Peças
Saímos às quatro da tarde, depois de tudo pronto e organizado, e início da maré vazante. Todo o trecho seria em maré vazante exceto nas proximidades da chegada, onde teríamos que atravessar o canal com uma forte correnteza vazante. Por este motivo, planejei um percurso de forma a atravessar o canal na diagonal, tendo antes de percorrer parte do canal em maré contra, porém pela parte mais rasa onde a correnteza é menor.
A navegação foi como o planejado. Ancoramos na Vila das Peças ainda com a luz do dia. Fomos dormir cedo para encarar o dia seguinte.
Segundo trecho - da Vila das Peças à Cananéia
Acordamos às 7h00 e já saímos. O tempo estava parcialmente nublado. O café da manhã foi durante a navegação.
Vila das Peças de manhã cedo.
Volnys na Vila das Peças.
Partida da Vila das Peças.
O primeiro trecho crítico era o canal entre a Baía das Laranjeiras e a Baía dos Pinheiros. O trecho é muito raso e a maré estava baixa.
Trecho crítico de calado do canal entre a Baía das Laranjeiras e a Baía dos Pinheiros.
Estávamos seguindo o track da navegação da vinda. Nesse trecho crítico havia duas varas que parecia indicar a localização do canal. Porém, o track passava por fora. Decidi optar pela marcação das varas. Má opção, encalhei forte e não conseguia desencalhar. Não podia perder tempo pois não chegaria a tempo da maré alta no ponto crítico do Canal do Varadouro. Algumas canoas passaram por nós, imagino que pensavam ".. o que este maluco está fazendo por aqui!".
Tivemos que usar o plano B: adernar levemente o veleiro. Para isso, abrimos a retranca e Kenzo se pendurou na ponta da retranca. Com a leve adernada, o veleiro rodopiou fazendo um pivô na quilha, permitindo o retorno pelo sentido de entrada.
Kenzo fazendo peso na retranca para adernar o veleiro.
Vilarejo do Guapicu.
Passamos pelo vilarejo do Guapicu e seguimos com cuidado pelo canal, procurando seguir a risca o track. Diminuímos a velocidade, pois estava muito raso.
Havia pouco movimento de embarcações. Antes de passar pelo vilarejo de Tibicanga, passou uma flotilha com duas lanchas e dois jetskis. As vi, em seguida, ancoradas no meio da Baía dos Pinheiros.
Lanchas ancoradas no meio da Baía dos Pinheiros.
Baía dos Pinheiros.
Vídeo do Jazz 4 na Baía dos Pinheiros.
Passamos pelas lanchas ancoradas, cruzamos a Baía dos Pinheiros e iniciamos o contorno da Ilha do Superaguí em direção ao Canal do Varadouro. Ao deixar por boreste uma coroa de pedras e um banco de areia novamente encalhamos. O canal submerso neste ponto é muito estreito. Por sorte estávamos devagar e bastou uma ré para o desencalhe.
Ponto de encalhe na saída da Baía dos Pinheiros.
Fazia calor e as nuvens diminuiam. A flotilha de lanchas passou novamente por nós. Acho que estavam indo para Marujá, que fica bem cheio no Carnaval.
Não podíamos parar a navegação. As refeições eram feitas com o veleiro em movimento. Tínhamos que aproveitar a janela de maré cheia no ponto crítico do Canal do Varadouro.
Passamos sem problemas pelo ponto crítico. Estávamos agora aproveitando a maré vazante até o Ariri. Cheguei a pensar em parar para saborear algumas ostras, porém estávamos atrasados e queria aproveitar ao máximo a luz do dia. A navegação no escuro pelos canais é muito perigosa. Para variar, após o Ariri, Kenzo se distraiu no leme e encalhamos novamente. O desencalhe novamente foi fácil.
Canal do Varadouro.
Ao passar por Marujá, aproveitei a navegação tranquila pela profundidade e largura do canal para transferir diesel do galão para o tanque. Afinal, já eram mais de 10 horas de navegação. Contornávamos o canal de contorno da Ilha do Cardoso. No final do trecho, já sem luz do dia, chegamos a navegar a 8 nós de velocidade, 5 do motor e 3 da forte correnteza.
Quando entramos no canal de Cananéia, pegamos esta correnteza contra, navegávamos a 2 nós. Levamos mais de uma hora para percorrer estas últimas 3 milhas. Ancoramos próximo ao Centro Náutico de Cananéia. Foram ao todo 3 horas de navegação até Vila das Peças e mais 14 horas de navegação contínua até Cananéia. Jânio Preto, como combinado, estava a espera para combinar a estadia do Jazz 4 em Cananéia.
No dia seguinte acordamos bem cedo para pegar o ônibus para São Paulo. Infelizmente, tínhamos outro compromisso agendado. Mas na saída fomos brindados com um lindo nascer do sol.
Jazz 4 ancorado no Canal de Cananéia.
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