domingo, 13 de julho de 2014

Reflexão sobre as unidades de conservação do Lagamar

Na região do Lagamar existem diversas unidades de conservação, dentre elas diversos parques: o Parque Estadual do Lagamar Cananéia, o Parque Estadual da Ilha do Cardoso, o Parque Nacional do Superagui (inclui a Ilha do Superagui e Ilha das Peças) e o Parque Estadual da Ilha do Mel.


Um parque é uma área de conservação que tem como objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de ecoturismo.

Uma interessante reflexão sobre as unidades de conservação (UC) marinhas, especialmente as do Lagamar foi publicada recentemente por João Lara Mesquita (Mar Sem Fim), Parque Nacional do Superagui, Paraná, e reflexões sobre as UCs marinhas do Sul. Nela, o autor comenta como a falta de investimentos nos parques é prejudicial a todos os envolvidos.

Vilarejo de Barbados - Ilha do Superagui.

Tive a oportunidade de visitar Barbados duas vezes em 2013, uma delas a bordo do veleiro Jazz 4. Na ocasião, conversei com Antônio Lopes, morador do local. A família de Antônio Lopes no passado plantava arroz, milho e mandioca e hoje sua fonte de renda é um pequeno e rústico restaurante. Inclusive, em uma área do restaurante existe um mini museu com as peças utilizadas no passado para o processamento da mandioca.

Hoje, com o estabelecimento do Parque, os moradores não podem mais plantar nem manter animais. Também não podem mais construir canoas e remos extraídos de madeiras da região. Um motivo adicional para extinção da tradição de construção náutica de canoas. Atualmente, a comunidade vive essencialmente da pesca artesanal (peixes e camarão), catação (caranguejo, ostras e mariscos) e, mais recentemente, criação de ostras. A outra alternativa de renda seria o turismo. Mas esta possibilidade esbarra em sérios problemas, dentre eles: a ausência total de infraestrutura, não somente turística, mas para os próprios moradores e o isolamento e dificuldade de acesso.

Um dos objetivos de um Parque Nacional é propiciar sua visitação pela população, sendo este também uma das poucas alternativas de renda para os caiçaras da região.

Mas o turismo esbarra em diversas restrições. As alternativas de acesso à Ilha do Superaguí é através dos canais a partir de Cananéia, Guaraqueçaba ou Paranaguá. Porém, a única rodovia de acesso à cidade de Guaraqueçaba ainda é de terra, sendo impedida sua pavimentação por restrições ambientais. Existem restrições sérias de navegação pelos canais em alguns pontos devido à sua profundidade e total ausência de sinalização. Existem impedimentos para dragagem dos canais, inclusive do Canal do Varadouro (canal artificial criado na década de 50). Isso também impede ou restringe consideravelmente a navegação noturna.

A distância e as restrições de navegação exige do turista a disponibilidade de vários dias para a visitação da região, principalmente da Ilha do Superagui, onde a visitação é concentrada principalmente nos feriados prolongados. Isso também contribui para que a Ilha do Mel, o local mais próximo de visitação, concentre grande parte da visitação, inclusive de maneira excessiva.

A ausência de investimentos faz com que as poucas alternativas (primitivas) de hospedagem causem impactos, como por exemplo, a geração de esgoto doméstico. Hoje existem soluções viáveis de tratamento de esgoto para pequenas comunidades ou mesmo para unidades individuais.

Os Parques exigem investimentos que o caiçara não pode arcar: sistema de tratamento de esgoto, energia elétrica, atracadouros para embarcações, sinalização náutica, visitação guiada, centros de apoio ao turista, centros de educação ambiental, etc.

Não podemos nos conformar em isolar uma região e deixar comunidades tradicionais à própria sorte. É necessário encontrar meios para viabilizar os investimentos essenciais nos Parques brasileiros.

Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário