sábado, 19 de julho de 2014

Duas falhas simultâneas

Estava aguardando a melhoria das condições de navegação para levar o Jazz 4 de Ilhabela a Angra dos Reis. A previsão indicava forte ondulação e ventos não favoráveis. A previsão se alterou, abrindo uma boa janela na quarta feira (16/07) para passar pela região de Trindade / Ponta da Joatinga. Mas precisaria encarar um vento contra no dia anterior (terça feira)  partindo de Ilhabela.

Cheguei à Ilhabela na terça de manhã junto com meu filho Kenzo. O Jazz 4 estava em uma poita no Saco da Capela. O dia maravilhoso convidava-nos a ficar em Ilhabela. Mas precisávamos seguir a programação para pode participar do Cruzeiro da Costa Verde (CCV) que se iniciaria no sábado.

 Saco da Capela - Ilhabela.

Saímos por volta das 15h00 em direção à Picinguaba onde iriamos pernoitar. No canal de Ilhabela o vento estava muito fraco, mas passando a Ponta das Canas, entrou forte, de cara. Íamos a vela e motor bordejando. Passei por fora da Ilha do Mar Virado e retornei, já no início da noite, por trás da Ilha Anchieta abrigado das ondas para poder fazer a janta. Passando a Ilha Anchieta esperava pegar novamente o vento contra, mas já tilha acalmado bastante, conforme a previsão. A lua surgiu e iluminou um pouco o mar. Cheguei em Picinguaba pouco antes da meia noite. Ancorei um pouco afastado da praia, além dos barcos de pesca e das escuna . O local estava bem abrigado da ondução e vento. 

Como sempre, deixei o GPS ligado com alarme de ancoragem. Estava configurado para 30 pés (cerca de 10 metros). Assim, gerava alarme a cada rodada do veleiro sobre a âncora. Prefiro assim pois, algumas vezes, os barcos podem rodar em momentos diferentes e bater. Acordei duas vezes com o alarme. Como não existiam embarcações próximas, mudei a configuração para 50 pés (cerca de 17 metros). 

Acordei de madrugada com uma batida diferente, um pouco mais abafada. Subi para ver o que era e me assustei! Estava na praia! O barulho era da quilha batendo no fundo. Chamei o Kenzo para subir. Liguei imediatamente o motor e dei ré. Pedi para o Kenzo ir na proa e puxar a âncora. A quilha do veleiro já estava posicionada sobre a areia. As pequenas ondulações empurravam levemente o veleiro para a praia. O veleiro não recuou, porém rodou em seu eixo, ficando quase paralelo à praia. Lembrei-me das situações de encalhe no mangue do Lagamar e do aprendizado de sair do encalhe para frente. Assim, acelerei para frente com o leme virado. O veleiro pivotou sobre a quilha, rotacionando até ficar aproado para o mar. Neste momento, dei todo o motor à frente e, logo em seguida, saiu do encalhe. Perguntei ao Kenzo se tinha conseguido subir a âncora. Me disse que não existia âncora nem corrente, somente o cabo. Levei o Jazz 4 vagarosamente para longe da praia, após as embarcações ancoradas.

Eram 3h30 da manhã. Fui fazer a inspeção. Nada tinha acontecido exceto a perda da âncora e da corrente. Aparentemente, a manilha de inox que prendia a corrente ao cabo havia quebrado ou soltado. Havia feito a revisão do conjunto de ancoragem antes de sair de Santos, quando também recoloquei as anilhas coloridas (cabos Hellerman) a cada 5 metros para indicar a quantidade de cabo lançada.

Peguei a âncora reserva (uma arado de 15 kg com 5 metros de corrente) e lancei-a ao mar para ancoragem.

Ainda não havia entendido por que não havia soado o alarme de ancoragem. Será que não tinha escutado o alarme? Fui ver o GPS Ploter. Constatei que o GPS não estava na tela de navegação (tela de carta náutica), mas na tela de configuração. Pelo visto, ele não gera alarme quando está na tela de configuração! 

Assim como na aviação, na navegação as situações críticas surgem na ocorrência de falhas simultâneas. No meu caso, a perda da manilha e a falha do alarme resultou em uma situação que poderia ter perdido o veleiro.

Depois, durante a madrugada, o GPS alarmou mais umas 3 vezes. Tinha posto o despertador para as 6h00, mas estava muito cansado. Acordamos depois das 8h00.

Vilarejo de Picinguaba (Ubatuba) de manhã cedo.

Fui ver as condições de visibilidade da água para ver se seria possível resgatar o conjunto de âncora, mas estava muito turvo. Resolvi seguir  a navegação conforme a programação, aproveitando a janela de tempo com boas condições.

Não havia vento suficiente para velejar, por isso fomos novamente a motor, mas agora sem as velas.

 Través de Trindade, com a Ilha das Couves ao fundo.

 Ponta da Joatinga ao Fundo.

Chegamos no Bracuhy pouco depois das 16h00. Ficamos no Guest House Náutico da Sailabout, no Condomínio do Bracuhy.

Veleiro Jazz 4 no Guest House Náutico da Sailabout.

Um comentário:

  1. Manilhas de inox... eu não as uso nem a pau.Ainda bem que deu tudo certo! Bons ventos, Comandante!!!

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